Conheça a evolução econômica de Salvador em 476 anos de história da cidade

Trajetória econômica de Salvador moldou história da Bahia e do Nordeste, afirmam historiadores

A população estimada de Salvador em 2024 era de 2.568.928 habitantes, de acordo com o compêndio anual de dados socioeconômicos do estado, divulgado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), denominado “Info Bahia 2025”. A cidade é a mais populosa da região Nordeste e a terceira maior do Brasil, chamando a atenção pela evolução de seu potencial econômico desde a sua fundação.

Hoje, em homenagem aos 476 anos da capital baiana, o portal Agro na Bahia conta um pouco da evolução econômica desta senhora metrópole que faz aniversário neste sábado, dia 29 de março, e tem se tornado o destino não somente de turistas, mas de grandes indústrias nacionais e estrangeiras de diversos segmentos, que vão desde a aviação, passando pelo agronegócio, pelos setores alimentício, mineral, têxtil e de eventos corporativos, indo até o automobilístico.

Segundo Claudimir Matos Junior, historiador e docente da Estácio Feira de Santana, os portugueses quando fundaram Salvador, em 1549, mal imaginavam que estavam estabelecendo um dos principais centros econômicos do Brasil. A cidade não apenas testemunhou a história, mas a protagonizou, moldando ciclos financeiros fundamentais para a formação econômica nacional.

Reprodução / Arquivo

Ele lembra que, no período colonial, Salvador – povoada por europeus índios e negros – foi o grande motor da economia açucareira, com o Recôncavo Baiano respondendo por grande parte da produção mundial do açúcar nos  séculos XVI e XVII. O porto da cidade se tornou um ponto de convergência para o comércio atlântico, conectando Brasil, África e Europa. Como destaca a historiadora Kátia Mattoso em “Bahia: A Cidade do Salvador e sua Economia”, Salvador não era apenas um município, mas sim o coração econômico da colônia, essencial para a manutenção do império português.

Matos Junior explica que, com o declínio do ciclo do açúcar no século XVIII, a cidade se reinventa, mantendo sua relevância econômica agora por meio do comércio de tabaco e algodão. No século XIX, com a diversificação da economia e ligeira urbanização, Salvador se tornou um polo comercial e industrial emergente, enquanto no século XX, a criação do Polo Petroquímico de Camaçari trouxe um novo impulso industrial, tornando-se um dos maiores complexos do Brasil.

Também não se pode esquecer que a metrópole, no século XIX, ganhou um novo panorama e a produção do cacau passou a ser a ‘vedete’ da economia baiana, sendo 20% do orçamento do estadoem função da produção desta commodity nos engenhos dos ‘coronéis’. 

“Atualmente, Salvador apresenta um mosaico econômico diversificado. O turismo movimenta milhares de empregos diretos e indiretos, a indústria petroquímica e os setores de comércio e serviços têm um forte impacto na economia local, assim como o seu PIB [Produto Interno Bruto, que, hoje, é de R$ 62,9 bilhões, o equivalente a 17,9% do PIB do Estado da Bahia]. Além disso, a cidade se destaca no cenário da economia criativa, com um setor cultural vibrante e uma crescente presença tecnológica”, salienta o historiador e professor.

De acordo com o também historiador Wilson Gordilho Oliveira, em “Salvador: Transformações Econômicas e Urbanas”, a cidade é um “laboratório vivo da economia brasileira”, onde cada ciclo representa não apenas uma fase, mas uma evolução constante de adaptação e resiliência. Da economia açucareira ao turismo e à inovação, a metrópole segue sendo um centro econômico de relevância nacional.

“Sem dúvida, a história de Salvador é um fator essencial para a economia nacional. Desde sua fundação, a cidade foi um dos principais eixos da economia colonial, sendo um centro administrativo, comercial e cultural. Como primeira capital do Brasil, Salvador concentrou as decisões políticas e econômicas por mais de dois séculos, exercendo uma influência direta sobre o desenvolvimento do país”, ressalta Matos Junior.

Além disso, o legado histórico e cultural da cidade faz dela um dos destinos turísticos mais importantes do Brasil. O Pelourinho, as igrejas barrocas, a culinária baiana e a cultura afro-brasileira são grandes atrativos para turistas nacionais e estrangeiros. O turismo não apenas gera empregos diretos e indiretos, mas também fortalece setores como a gastronomia, eventos, festas populares, o artesanato e a música, consolidando a economia criativa como um dos pilares do desenvolvimento econômico local.

Para Matos Junior, outro fator crucial é a infraestrutura portuáriada capital baiana, que, historicamente, facilitou o comércio internacional. “O Porto de Salvador, desde os tempos coloniais até os dias atuais, continua sendo um ponto estratégico para a exportação e importação de produtos, contribuindo para a economia brasileira. Além disso, a cidade abriga um dos maiores complexos industriais do Nordeste, com destaque para o Polo Petroquímico de Camaçari, que desempenha um papel essencial na indústria nacional”.

Ele pontua que o setor de tecnologia e inovação também vem crescendo nos últimos anos, impulsionado por universidades, startups, hubs e investimentos em infraestrutura digital. Esse movimento contribui para a diversificação da economia local e sua adaptação às novas demandas do mercado global.

Como destacou o historiador Luiz Felipe de Alencastro, no ano de 2000, Salvador foi um dos principais polos da economia atlântica no período colonial, mantendo essa relevância ao longo dos séculos. Já segundo o economista Celso Furtado, ressaltou em 2005, que a cidade teve um papel fundamental na articulação econômica do Nordeste com o restante do país, sendo um elo essencial no desenvolvimento nacional.

“Assim, a trajetória econômica de Salvador não apenas moldou a história da Bahia, mas também impactou significativamente a economia brasileira ao longo dos séculos. Seu passado rico e sua dinâmica econômica atual demonstram que a cidade segue sendo um ponto-chave no cenário econômico do país, com uma economia diversificada e resiliente que se reinventa ao longo do tempo”, enfatiza Matos Junior.

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