Comunidade brasileira aposta em produção de polpas de frutas do Cerrado
Unidade de Processamento de Polpa de Frutas do Cerrado amplia projeto para atender mercados institucionais
Aproveitar as frutas do quintal de casa para fazer polpas foi a solução encontrada pela Comunidade de Gerais Velho, município de Ubaí (Norte de Minas), para aumentar a renda da comunidade. A Unidade de Processamento de Polpa de Frutas do Cerrado foi criada há 15 anos, mas a partir de 2023, com a obtenção do registro no Ministério da Agricultura, o projeto ganhou força e vem ampliando mercados.
A unidade de processamento de polpa de frutas pertence à Associação Quilombola de Gerais, que tem 65 agricultores familiares associados. Em 2010, a entidade foi contemplada com um projeto de beneficiamento de frutas e derivados do leite pelo Projeto de Combate à Pobreza Rural (PCPR). “O beneficiamento do leite não foi utilizado por não haver grande oferta da bebida na comunidade, porém as polpas de frutas eram produzidas no local e também nas propriedades dos sócios, sendo comercializadas informalmente”, diz a extensionista da Emater-MG, Arlene Mendes Pereira.
Boas práticas
Mas o projeto não pode crescer sem a habilitação no Serviço de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultura, que permite a comercialização dos produtos nos mercados institucionais. Para ter o selo, foram necessárias adequações tanto na estrutura (prédio e equipamentos), quanto na parte organizacional (alteração do Estatuto Social, elaboração do Manual de Boas Práticas de Fabricação, etc).
A associação contratou uma responsável técnica, que pediu apoio da Emater-MG para habilitar a unidade. “A Emater-MG orientou o grupo de trabalho responsável pelo processamento das polpas das frutas a adotarem os procedimentos do Manual de Boas Práticas de Fabricação e a executar, com eficiência, as ações descritas no documento”, explica Arlene.
A extensionista conta que, a partir do registro, o grupo orientado pela Emater-MG, criou uma imagem e um nome para as polpas de frutas (embalagens de 500 gramas). Em seguida, foram elaborados os rótulos para as polpas de acerola, manga, cajá, tamarindo, jenipapo, goiaba, maracujá e umbu. “São frutas do cerrado, que tem uma boa aceitação nas escolas da região, pois fazem parte da cultura local. O jenipapo e o umbu, por exemplo, são frutos do semiárido e são muito comuns nos quintais da comunidade”, conta a técnica.
A equipe local da Emater-MG, que conta ainda com o extensionista Carlos Everardo Mendes de Freitas, organizou reuniões com gestores escolares do município para a comercialização da produção das polpas através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e elaborou os projetos de venda para as chamadas públicas. Outra iniciativa no município é a unidade de processamento de quitandas, que também são vendidas nos programas governamentais.
Mercado institucional
Em 2024, foram comercializados cerca de 1.700 quilos de polpas nas escolas estaduais da cidade e 500 kg nas escolas municipais. “As polpas são ricas em vitaminas e não contém na sua composição aditivos químicos ou açúcares adicionados. Além de oferecer alimentos seguros e qualidade para nossos alunos, o projeto tem gerado renda para os produtores do município. Por isso, queremos montar um viveiro de mudas para que a iniciativa possa crescer”, conta o secretário municipal de Agricultura, Hélio Ferreira Veloso.
Em 2025, a associação vem realizando as entregas para as escolas estaduais do município de Ubaí e aguarda a chamada pública municipal. A Emater elaborou ainda projeto de comercialização para as escolas estaduais de Brasília de Minas (município limítrofe) e as entregas já estão sendo realizadas, além de fazer um projeto para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), classificado em oitavo lugar no Estado.
A capacitação do grupo de trabalho de processamento das polpas é realizada anualmente, sob coordenação da Emater e com apoio da Prefeitura Municipal e Secretaria Municipal de Agricultura. “O projeto está engatinhando, mas acreditamos que vai crescer. Sonhamos em abrir novos mercados, mas temos dificuldade de ampliar a produção. Precisamos de placas solares para reduzir as despesas com energia, que está muito cara, e também ter uma câmara fria para armazenar as polpas. Temos esperança que as coisas fluam e estamos dedicando para conseguir essas melhorias”, ressalta o presidente da Associação Quilombola de Gerais, Xisto Martins Pereira.