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Inadimplência no agro: Saiba como a etapa inicial do crédito define os riscos no setor

Uso de dados e tecnologia pode reduzir riscos e tornar as operações mais seguras e previsíveis, aponta especialista

A inadimplência no crédito rural , frequentemente associada ao comportamento do produtor, muitas vezes tem origem em um ponto anterior: a forma como as operações são estruturadas. Documentações desatualizadas e dispersas em vários documentos, informações imprecisas e análises incompletas ainda são realidades no mercado, comprometendo a qualidade das propostas e aumentando o risco de atraso e perda financeira para credores.

De acordo com dados da Serasa Experian, o índice de inadimplência da população rural chegou a 7,9% no primeiro trimestre de 2025, ante 6% em 2022, o que representa cerca de 780 mil produtores com dívidas em atraso superiores a 180 dias. No mesmo período, o número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio cresceu 31,7%, totalizando 565 solicitações apenas no segundo trimestre.

Na prática, o problema começa na etapa inicial do processo, quando são reunidos os dados e documentos que sustentam a análise. Quando essa fase não é padronizada ou carece de visibilidade, erros cadastrais e retrabalho se acumulam, afetando toda a cadeia. A consequência é uma operação menos previsível, mais vulnerável e com maior exposição ao risco.

Para Thays Moura, sócia-fundadora da Agree, fintech especializada em soluções tecnológicas para a captação de crédito rural, os números refletem uma falha estrutural no processo. “A inadimplência não começa no atraso, ela começa no cadastro. Quando a operação é construída sobre dados desorganizados, o risco está sendo definido muito antes de o crédito ser liberado”, explica.

Para resolver esse problema, a empresa desenvolveu o Agree Hub, plataforma B2B que estrutura e centraliza dados de crédito rural, conectando produtores, consultores e instituições financeiras em um único ambiente. Com o uso de inteligência artificial, o sistema padroniza informações, identifica pendências automaticamente e dá visibilidade total ao status cadastral de cada operação, e assim reduz falhas, retrabalho e incertezas.

Em sua fase piloto, a plataforma apresentou resultados expressivos: aumento de até 400% na produtividade, redução de até 80% no tempo de análise e queda nas devolutivas por inconsistência de 70% para menos de 20%. O tempo médio de análise, que antes levava até 10 dias, passou para cerca de um dia, tornando o processo mais ágil e previsível.

“O crédito rural movimenta bilhões e envolve ciclos longos, margens apertadas e múltiplos agentes. Por isso, a previsibilidade é essencial. A tecnologia tem o papel de dar visibilidade desde a origem, para que as decisões sejam baseadas em dados confiáveis e a carteira seja construída de forma sólida e sustentável”, complementa Thays.

Mais do que automatizar etapas, a proposta é fortalecer a governança do crédito rural, garantindo que a digitalização do setor venha acompanhada de segurança, rastreabilidade e inteligência de dados. Ao integrar todos os elos da cadeia, do produtor ao credor, a plataforma contribui para reduzir riscos sistêmicos e ampliar o acesso ao crédito de qualidade no campo. Com isso, os credores ganham previsibilidade e segurança nas análises, e os produtores passam a ter mais tranquilidade e agilidade na contratação do financiamento.

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