Turismo de ingredientes: por que o Brasil ainda exporta o que poderia produzir?

*Luiz Gonzatti, CEO da Alibra Ingredientes

Já ouviu falar em “turismo de ingredientes”? Se não, podemos começar uma explicação sobre o significado do tema partindo de um dado muito interessante: de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil garantiu recordes de exportações em 2023 em diversas categorias de commodities, como soja, milho, farelo de soja, açúcar e alguns tipos de carne.

Olhando para essa informação, podemos entender claramente que somos um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com uma agropecuária sólida e a maior biodiversidade do planeta. No entanto, também fica evidente que esses produtos básicos e seus derivados são poucos incluídos em estratégias de uso no próprio território brasileiro, especialmente quando falamos da indústria alimentícia. 

Muitas das matérias-primas são exportadas para outros países, como se fossem turistas viajando. Ou seja, mesmo com a abundância delas dentro de casa, não suprimos todas as nossas necessidades internas. “Precisamos” importar ingredientes alimentícios que poderiam ser produzidos localmente, também como se fossem turistas vindo para cá.

É, literalmente, um vai e vem.
Diante dessa situação, faço duas perguntas básicas: por que o Brasil, com toda a riqueza que possui, ainda exporta insumos para que outros países os transformem em produtos que depois importamos? Por que não produzimos essas soluções aqui?

Poderíamos com tranquilidade evitar esse turismo de ingredientes e ser auto suficientes. Inclusive, se fizéssemos isso, poderíamos agregar mais valor às commodities e explorar novas tecnologias para desenvolver produtos únicos.

E, para completar, não podemos esquecer que as dificuldades logísticas que surgiram após a pandemia de Covid-19 e o aumento de conflitos em várias regiões do planeta tornam essa alternativa ainda mais importante. A necessidade de desenvolver soluções inovadoras internas nunca foi tão alta. 

 A aproximação da indústria com a academia e a área de P&DI.
é uma das chaves para transformar a realidade do turismo de ingredientes. Com isso, não apenas poderemos focar em suprir as nossas próprias demandas, como também aquelas que estão sendo cada vez mais colocadas para os mercados globais.

A prática da agenda ESG (sigla em inglês para “Ambiental, Social e Governança”) é um grande exemplo disso. Nos dias de hoje, cuidar do meio ambiente anda lado a lado com a geração de renda eficiente, o que, por sua vez, requer que oportunidades sejam dadas às comunidades locais. Elas funcionam como o motor para acelerar o desenvolvimento do Brasil no atual cenário competitivo, tornando a nossa produção primária ainda mais relevante.

Já temos algumas ações isoladas desse tipo no mercado brasileiro, com empresas nacionais que vêm cada vez mais estabelecendo um compromisso com o crescimento sustentável e inovador. Muitas possuem tecnologias pioneiras, especialmente no segmento de lácteos, onde transformam componentes do leite e outras matérias-primas locais em ingredientes de alto valor para o setor.

Está na hora de tornar essas iniciativas um padrão no país.
Para isso, todas as frentes da indústria precisam se movimentar, não apenas algumas poucas organizações. Só para citar alguns elementos desse contexto, os parceiros comerciais e os próprios órgãos reguladores devem trabalhar em conjunto com as companhias em prol desse objetivo, gerando um alto valor para toda a cadeia brasileira.

Obviamente, caminhar para essa inovação traz inúmeros desafios e com certeza iremos acertar e errar durante a jornada. O que não podemos fazer é fugir da responsabilidade criada a partir do nosso próprio potencial. Temos a chance de transformar uma gama imensa de setores, principalmente o alimentício, dando um novo significado para as nossas commodities.

Não precisamos ser turistas no nosso próprio lar. Nossa casa é um ambiente totalmente propício e rico para arriscarmos novos caminhos.

*Luiz Gonzatti é CEO da Alibra Ingredientes, referência em soluções inovadoras para a indústria alimentícia e o mercado food service. 

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